02/07/2012

"A caixa sagrada"

A transformação interior é o primeiro passo para que aquilo que tanto ansiamos aconteça quando menos se espera


Por Jaqueline Corrêa / Foto: Thinkstock
jaqueline.correa@arcauniversal.com

Jane resolveu dar um tempo a Fran. Parou de ligar, concentrou-se em si, mas ainda não sabia o que fazer para reconquistá-lo. Queria ter o seu casamento de volta, mas estava perdida em meio a tantos pensamentos e atitudes erradas.

Até que um dia, atribulada de espírito, depois de ter chorado a madrugada inteira e não ter conseguido pregar os olhos, sentiu um desejo de fazer algo que jamais havia se passado em sua mente. O seu coração dizia que aquilo era uma bobagem, afinal, ela era uma mulher aparentemente segura, confiante. “Não pegaria bem para ela fazer aquilo”, pensava erroneamente.

Mas ela não deu ouvidos para si. Dobrou os joelhos ao pé da cama e só fez chorar. Jane não disse uma palavra, uma única sequer, apenas sussurrava gemidos de dor.

Passaram-se alguns minutos, e ela, envolta a lágrimas, sozinha naquele imenso quarto de requinte refinado, abriu os lábios aos poucos. Falou com a boca ainda dura, como se estivesse em plena luta íntima; como se, brigando contra os sentimentos de vergonha e acusação, quisesse libertar-se. E suplicou:

– Deus, não sei se me ouves, não sei se estou fazendo certo em falar contigo. Mas, eu sei que existes. Eu acredito que todas as coisas boas vêm de ti, mas eu não sei orar, não sei como devo falar contigo, mesmo assim, eu te peço, olhe para o meu sofrimento....

Ela chorou mais um pouco.

– ... Desde que o meu marido foi embora, não sei o que é sorrir, e sei que a culpa é toda minha. Sei que ele procurou em mim a pessoa que havia conhecido anos atrás, e ficou sem rumo, porque se decepcionou. Mas, por favor, me diga que caminho seguir e o que fazer para mudar. Eu tenho me esforçado, mas parece que é inútil... Sinto-me completamente perdida... Ajude-me, pois sozinha, não terei como prosseguir...

Jane não pediu para que o marido voltasse, mas para mudar internamente. E quando terminou a oração, que durou o tempo suficiente de um desabafo dramático e sincero, deitou-se na cama e dormiu por muitas horas. O corpo estava cansado, mas ela se sentia forte. E, ao acordar, já no final da tarde, pareceu renovada.

Alguns meses depois, Jane era uma nova mulher. O visual era o mesmo, mas pensava de modo diferente, já não falava em morte, já não chorava, e constantemente se via sorrindo. Os familiares estranharam, as amigas também, e até cogitaram que ela pudesse estar namorando alguém, porém, tudo não passava de pura fofoca e especulação barata.

Leia as outras partes da história

Desde aquele dia, Jane percebeu o quanto havia melhorado, o quanto aquela angústia havia saído e o quanto aquele simples gesto de orar havia lhe trazido força. Ela estava pronta para enfrentar qualquer coisa, até mesmo aquela separação traumatizante.

Após 1 ano, Jane recebeu um convite para trabalhar em outro país. Ficou feliz; no entanto, uma leve tristeza lhe abateu, por não estar com o homem de sua vida ao lado. Por um momento, pensou em ficar, em procurá-lo, em tentar uma reconciliação, mas depois se lembrou da promessa feita naquela primeira oração ao pé da cama: de que entregaria a sua vida nas mãos de Deus para sempre, e que Ele, a partir daquele momento, a direcionaria em tudo, já que sozinha não conseguia.

Ela se lembrou daquelas palavras como um filme que veio à sua mente. Não foi fácil; entretanto, entendeu que se havia feito a escolha de confiar, não poderia voltar atrás. Por isso, dias mais tarde já estava com as malas prontas para seguir viagem.

Na manhã do embarque, Jane despediu-se de todos. E todos choravam a falta que a amiga, filha e irmã faria, afinal, ela moraria em outro país, deixaria tudo para trás e partiria para uma nova vida longe dos seus.

E foi com mais essa mala cheia de dor e lágrimas que seguiu para o aeroporto. Gostaria de mandar um recado para Fran, mas desistiu de imediato. Também não quis saber de notícias dele e pediu para que a família respeitasse sua decisão.

Então, seguiu sozinha. E quando chegou à sala de embarque, com o coração aos prantos, ouviu uma voz dizer baixinho o seu nome:

– Jane!

Era Fran, que com carinho segurou a sua mão e pediu, com os olhos marejados, para que a mulher da vida dele não o deixasse para sempre.

Para refletir

Quando estamos angustiados, a melhor maneira de superar é desabafando com Deus as nossas dores. E se estivermos perdidos, Ele nos ajuda a encontrar a saída e o caminho da paz. A transformação interior é o primeiro passo para que aquilo que tanto ansiamos aconteça quando menos esperamos.

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